Ao terceiro dia após a morte de Cristo, os discípulos
encontraram os sinais da ressurreição, vendo o túmulo vazio, os lençóis que
envolveram o corpo do crucificado e o sudário dobrado à parte. Os relatos
evangélicos variam ao descreverem os fatos, mas não se contradizem, antes se
completam. Os quatro evangelistas são unânimes em afirmar que Cristo
ressuscitou e que as primeiras pessoas a chegarem ao túmulo vazio foram algumas
mulheres, entre elas Madalena. (cf. Mt 28, Mc 16, Lc 24, Jo 20). São João
apresenta maiores detalhes a respeito do diálogo de Madalena com o
Ressuscitado. Ao vê-lo, exclama com emoção: Robbuni,
que quer dizer Mestre. O alvissareiro anúncio primeiro vai a Pedro, chefe dos
Apóstolos e ao discípulo amado, depois aos onze, depois aos demais discípulos.
Naquele mesmo dia, à tarde, os discípulos reunidos em certa casa, possivelmente
o Cenáculo onde Jesus instituiu a Eucaristia, O viram em corpo glorioso e
falaram com Ele. É também João que relata o episódio do incrédulo Tomé, que não
estava ali no primeiro dia e que esteve com o Senhor redivivo, oito dias
depois, e pôde tocar as suas chagas. Prostrando-se, reza humildemente: Meu Senhor e meu Deus! (Jo.20,28)
Entre tantas outras manifestações,
talvez a experiência mais bela da ressurreição do Senhor, tenha sido a dos
discípulos de Emaús, narrada pelo Evangelho de Lucas
(Lc.24,13-35). Tristes pela morte,
decepcionados pela tragédia, desesperançosos pela solidão, voltavam para casa.
Mas eis que um estranho peregrino se põe a caminhar com eles e lhes aquece o
coração quando fala. Ao chegarem às proximidades de casa, convidam-no à hospedagem
e recebem a extraordinária revelação: ao partir o pão, ao fazer a oração, não
puderam ter dúvida de que se tratava do mesmo gesto, da mesma forma de orar,
afinal da mesma pessoa que, às vésperas da morte havia celebrado a Páscoa com
seus discípulos e instituído a Eucaristia, sacramento da nova e eterna aliança.
Na beleza da literatura lucana,
podemos perceber neste relato, além da descrição dos fatos, um maravilhoso
simbolismo. Ali estão presentes, por exemplo, os contrastes entre
“escuridão” e “claridade”, pois ao chegarem em casa disseram os discípulos ao
Peregrino: Fica
conosco porque já é tarde e o dia já declina. (Lc.24, 29) Mas ao
gesto do pão à mesa, seus
olhos se abriram (Lc,
24,31). Antes
estavam obscurecidos pela incredulidade, por um olhar frio e secularista
que os prendia somente à degradação da morte, agora estão no lume da fé que
lhes revela a verdade sobre a vida e sobre todas as coisas. Onde está tua vitória, ó morte!Onde está o teu
aguilhão? exclamará
mais tarde Paulo aos Coríntios. (cf.1Cor.15,55) O retorno dos discípulos pressurosos e
alegres é a imagem do fiel seguidor de Jesus e de toda a sua Igreja que estão
sempre, como missionários, anunciando à semelhança de Pedro: Cristo ressuscitou e disto nós somos testemunhas.
(cf. At.2,32)
Ficarão para sempre impressas as
palavras de João Paulo II: Quando
a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor,
esse acontecimento central da salvação torna-se realmente presente e com ele se
realiza também a obra de nossa redenção. Esse sacrifício é tão decisivo
para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou para o
Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos, como se a ele
tivéssemos estado presentes. O que poderia mais Jesus ter feito por nós? (EE)
Cristo, pela sua morte, entregou-se
à condição humana e pela sua ressurreição nos dá a possibilidade de participar
de sua condição divina, no prisma da santidade e do amor, o que acontece já
nesta vida, mas que culminará em plenitude na eternidade, a perene festa
pascal.
Feliz e Santa Páscoa!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora